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Os oceanos e as mudanças climáticas

                  Professor Dr. José H. Muelbert & Professor Drª. Mônica M.C. Muelbert


    Fatos recentes mostram que mudanças substanciais estão ocorrendo agora na Terra e evidências
    indicam  que  poderão  se  repetir  no  futuro  em  períodos/intervalos  cada  vez  mais  curtos  como
    resultado das mudanças do Clima Como exemplos podemos citar a ocorrência de ondas de frio e
    calor  fora  de  época  ou  mesmo  de  maior  intensidade  nos  períodos  considerados  tradicionais,
    secas,  cheias,  deslizamento  de  encostas,  safras  quebradas,  desmatamento,  ventos  fortes  e              Matéria:
    intensos, e de ciclones mais frequentes que no passado recente.
     Ao longo da história do planeta, o clima tem passado por diversas variações naturais, em uma
    multiplicidade de escalas temporais (Ghil 2002, IPCC 2014, 2019) mas nada se compara ao que
    temos  observado  nos  últimos  anos  (AR6  SROCC  current  ice-melting  scenarios)  (IPCC  2014,
    2019, 2022). A concentração dos gases de efeito estufa, dos quais o gás carbônico (CO2) é um
    dos  principais,  têm  aumentado  significativamente  a  partir  da  revolução  industrial  decorrente
    principalmente da queima de combustíveis fósseis, o que tem como consequência o aumento da
    temperatura  média  do  planeta  e  gerando  por  sua  vez  importantes  consequências  econômicas,          Os oceanos e as mudanças climáticas
    sociais, políticas e ambientais (IPCC 2018).
    O  aumento  da  temperatura  da  superfície  do  mar  resulta  em  um  aumento  de  intensidade  de
    eventos  extremos  como  os  ciclones  extratropicais.  Altera  também  o  padrão  de  circulação
    atmosférica  sobre  o  continente,  resultando  em  mudanças  no  regime  de  precipitação  em  uma
    vasta  área  da  América  do  Sul.  Aumenta  ainda  a  intensidade  e  frequência  das  ondas  de  calor
    marinho (“marine heatwaves”) (Collins et al. 2019) com consequências sobre o regime de secas
    no Brasil e também na produtividade primária e pescarias (Rodrigues et al. 2019).
    As mudanças climáticas têm efeito sobre a biodiversidade, provocando alterações na distribuição
    geográfica,  nos  ciclos  sazonais,,  abundâncias  e  interações  de  muitas  espécies  marinhas  em
    resposta  ao  aumento  de  temperatura.  Corais  de  água  quente  e  seus  recifes  respondem  a  esse
    aquecimento  com  substituição  de  espécies,  branqueamento  e  redução  de  sua  cobertura,  o  que
    causa perda de habitat.
    Por  outro  lado,  a  absorção  oceânica  de  CO2  resulta  em  acidificação  das  águas  do  mar,  com
    redução do pH e da estabilidade de formas minerais de carbonato de cálcio, principalmente nas
    regiões de ressurgência e altas latitudes (IPCC 2019, Bindoff et al. 2019, Meredith et al. 2019).
    As concentrações de oxigênio diminuíram nas águas costeiras e na termoclina do oceano aberto
    e  as  zonas  mínimas  de  oxigênio  estão  se  expandindo  progressivamente  nos  oceanos,
    restringindo o habitat de vários organismos.
    Alterações do nível do mar mostram que ele aumentou no século XX. Os sistemas costeiros e as
    áreas rasas sofrerão cada vez mais submersão, inundações e erosão ao longo do século XXI e
    além,  devido  ao  aumento  do  nível  do  mar.  A  população  e  os  empreendimentos  expostos  aos
    riscos costeiros, bem como as pressões humanas sobre os ecossistemas costeiros, aumentarão
    significativamente    nas   próximas     décadas    devido    ao    crescimento    populacional,    ao
    desenvolvimento econômico e à urbanização. Os fatores climáticos e não climáticos que afetam
    os  ambientes  costeiros  irão  diminuir  os  habitats,    aumentar  a  exposição  do  litoral  às  ondas  e
    tempestades e degradar as características ambientais importantes para a pesca e o turismo (Fig.
    13, IPCC 2019, Bindoff et al. 2019).
    A  cobertura  e  extensão  das  calotas  de  gelo  nos  pólos  e  nas  montanhas  é  um  dos  parâmetros
    mais afetados pelas mudanças do clima. Perda de gelo marinho no verão associado a perda de
    cobertura  de  neve  de  primavera  no  continente  contribuem  para  amplificar  o  aquecimento  no
    Ártico, onde a temperatura do ar na superfície provavelmente aumentou mais do que o dobro da
    média global nas últimas duas décadas. A Antártica é marcada por sinais regionais contrastantes
    e  grande  variabilidade  interanual,  mas  é  claro  que  a  cobertura  de  gelo  durante  o  inverno  está
    diminuindo gradualmente.



             Informativo CEMBRA                                        Nº 14 - Edição Semestral                  30
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