Page 30 - Informativo CEMBRA_14
P. 30
Os oceanos e as mudanças climáticas
Professor Dr. José H. Muelbert & Professor Drª. Mônica M.C. Muelbert
Fatos recentes mostram que mudanças substanciais estão ocorrendo agora na Terra e evidências
indicam que poderão se repetir no futuro em períodos/intervalos cada vez mais curtos como
resultado das mudanças do Clima Como exemplos podemos citar a ocorrência de ondas de frio e
calor fora de época ou mesmo de maior intensidade nos períodos considerados tradicionais,
secas, cheias, deslizamento de encostas, safras quebradas, desmatamento, ventos fortes e Matéria:
intensos, e de ciclones mais frequentes que no passado recente.
Ao longo da história do planeta, o clima tem passado por diversas variações naturais, em uma
multiplicidade de escalas temporais (Ghil 2002, IPCC 2014, 2019) mas nada se compara ao que
temos observado nos últimos anos (AR6 SROCC current ice-melting scenarios) (IPCC 2014,
2019, 2022). A concentração dos gases de efeito estufa, dos quais o gás carbônico (CO2) é um
dos principais, têm aumentado significativamente a partir da revolução industrial decorrente
principalmente da queima de combustíveis fósseis, o que tem como consequência o aumento da
temperatura média do planeta e gerando por sua vez importantes consequências econômicas, Os oceanos e as mudanças climáticas
sociais, políticas e ambientais (IPCC 2018).
O aumento da temperatura da superfície do mar resulta em um aumento de intensidade de
eventos extremos como os ciclones extratropicais. Altera também o padrão de circulação
atmosférica sobre o continente, resultando em mudanças no regime de precipitação em uma
vasta área da América do Sul. Aumenta ainda a intensidade e frequência das ondas de calor
marinho (“marine heatwaves”) (Collins et al. 2019) com consequências sobre o regime de secas
no Brasil e também na produtividade primária e pescarias (Rodrigues et al. 2019).
As mudanças climáticas têm efeito sobre a biodiversidade, provocando alterações na distribuição
geográfica, nos ciclos sazonais,, abundâncias e interações de muitas espécies marinhas em
resposta ao aumento de temperatura. Corais de água quente e seus recifes respondem a esse
aquecimento com substituição de espécies, branqueamento e redução de sua cobertura, o que
causa perda de habitat.
Por outro lado, a absorção oceânica de CO2 resulta em acidificação das águas do mar, com
redução do pH e da estabilidade de formas minerais de carbonato de cálcio, principalmente nas
regiões de ressurgência e altas latitudes (IPCC 2019, Bindoff et al. 2019, Meredith et al. 2019).
As concentrações de oxigênio diminuíram nas águas costeiras e na termoclina do oceano aberto
e as zonas mínimas de oxigênio estão se expandindo progressivamente nos oceanos,
restringindo o habitat de vários organismos.
Alterações do nível do mar mostram que ele aumentou no século XX. Os sistemas costeiros e as
áreas rasas sofrerão cada vez mais submersão, inundações e erosão ao longo do século XXI e
além, devido ao aumento do nível do mar. A população e os empreendimentos expostos aos
riscos costeiros, bem como as pressões humanas sobre os ecossistemas costeiros, aumentarão
significativamente nas próximas décadas devido ao crescimento populacional, ao
desenvolvimento econômico e à urbanização. Os fatores climáticos e não climáticos que afetam
os ambientes costeiros irão diminuir os habitats, aumentar a exposição do litoral às ondas e
tempestades e degradar as características ambientais importantes para a pesca e o turismo (Fig.
13, IPCC 2019, Bindoff et al. 2019).
A cobertura e extensão das calotas de gelo nos pólos e nas montanhas é um dos parâmetros
mais afetados pelas mudanças do clima. Perda de gelo marinho no verão associado a perda de
cobertura de neve de primavera no continente contribuem para amplificar o aquecimento no
Ártico, onde a temperatura do ar na superfície provavelmente aumentou mais do que o dobro da
média global nas últimas duas décadas. A Antártica é marcada por sinais regionais contrastantes
e grande variabilidade interanual, mas é claro que a cobertura de gelo durante o inverno está
diminuindo gradualmente.
Informativo CEMBRA Nº 14 - Edição Semestral 30