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Ecossistemas costeiros
Professor Dr. Paulo Tagliani
A costa brasileira é um desafio imensurável de gerenciar devido à sua extensão de 8.500 km e à grande
diversidade de ecossistemas e formas de uso. Vetores de desenvolvimento em franca expansão nas
últimas décadas, como turismo, carcinicultura, exploração de petróleo e gás, exploração mineral
offshore, grandes estruturas industriais e portuárias, monocultura agroflorestal, implantação de parques
eólicos e expansão urbana, atuam sinergicamente na supressão de habitats e na degradação da Matéria:
qualidade ambiental na Zona Costeira Brasileira (ZCB). Tais vetores alteram a paisagem costeira e
ocasionam a perda de habitats marinhos e terrestres, da biodiversidade e da diversidade cultural do
litoral brasileiro, com a introdução de espécies exóticas, a contaminação de águas e sedimentos por Ecossistemas costeiros
efluentes domésticos, industriais e tintas anti-incrustantes, poluição por resíduos plásticos, acidentes
ambientais e deslocamento de culturas tradicionais.
Devido à complexidade do desafio e às enormes dificuldades de caráter político, econômico e
institucional, apesar dos avanços importantes nos aspectos legais e normativos, a gestão da Zona
Costeira (ZC) não logrou alcançar as expectativas da comunidade científica e dos gestores envolvidos
na tarefa, de promover, de fato, a sustentabilidade nas zonas costeiras, pois a degradação ambiental e
os conflitos socioambientais agravaram-se desde a promulgação do I Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro (PNG) na década de 1980.
O mosaico ambiental da extensa costa brasileira é complexo e diversificado, constituído por
ecossistemas como praias arenosas e dunas; costões rochosos; recifes de corais e de arenito, estuários
e manguezais. Cada um desses ecossistemas possui características únicas em termos de substrato,
fauna e flora aquática, conectividade e usos. É importante ressaltar que esses ecossistemas
desempenham funções importantes para o equilíbrio ambiental da costa brasileira.
Não é possível pensar os ecossistemas costeiros como entidades ecológicas isoladas, mas sim como
componentes complexamente interligados através de processos ecológicos, econômicos e socioculturais
que operam em várias escalas temporais e espaciais, do global ao local, e afetam profundamente sua
dinâmica, estabilidade e qualidade. Por conseguinte, para ser bem sucedida, a gestão dos ecossistemas
costeiros, deve levar em consideração esses processos que operam nessas escalas.
A complexidade dos problemas atuais da zona costeira e sua tendência de agravamento face às
tendências inerciais dos vetores de pressão impulsionados pela crescente globalização econômica, e
das mudanças climáticas em curso, requerem que o enfrentamento adote uma perspectiva
interdisciplinar e integrada.
Figura 1. Alguns ecossistemas costeiros brasileiros
Informativo CEMBRA Nº 14 - Edição Semestral 18