Page 18 - Informativo CEMBRA_14
P. 18

Ecossistemas costeiros

                                       Professor Dr.  Paulo Tagliani



    A costa brasileira é um desafio imensurável de gerenciar devido à sua extensão de 8.500 km e à grande
    diversidade  de  ecossistemas  e  formas  de  uso.  Vetores  de  desenvolvimento  em  franca  expansão  nas
    últimas  décadas,  como  turismo,  carcinicultura,  exploração  de  petróleo  e  gás,  exploração  mineral
    offshore, grandes estruturas industriais e portuárias, monocultura agroflorestal, implantação de parques
    eólicos  e  expansão  urbana,  atuam  sinergicamente  na  supressão  de  habitats  e  na  degradação  da        Matéria:
    qualidade  ambiental  na  Zona  Costeira  Brasileira  (ZCB).  Tais  vetores  alteram  a  paisagem  costeira  e
    ocasionam  a  perda  de  habitats  marinhos  e  terrestres,  da  biodiversidade  e  da  diversidade  cultural  do
    litoral  brasileiro,  com  a  introdução  de  espécies  exóticas,  a  contaminação  de  águas  e  sedimentos  por  Ecossistemas costeiros
    efluentes  domésticos,  industriais  e  tintas  anti-incrustantes,  poluição  por  resíduos  plásticos,  acidentes
    ambientais e deslocamento de culturas tradicionais.
    Devido  à  complexidade  do  desafio  e  às  enormes  dificuldades  de  caráter  político,  econômico  e
    institucional,  apesar  dos  avanços  importantes  nos  aspectos  legais  e  normativos,  a  gestão  da  Zona
    Costeira (ZC) não logrou alcançar as expectativas da comunidade científica e dos gestores envolvidos
    na tarefa, de promover, de fato, a sustentabilidade nas zonas costeiras, pois a degradação ambiental e
    os conflitos socioambientais agravaram-se desde a promulgação do I Plano Nacional de Gerenciamento
    Costeiro (PNG) na década de 1980.
    O  mosaico  ambiental  da  extensa  costa  brasileira  é  complexo  e  diversificado,  constituído  por
    ecossistemas como praias arenosas e dunas; costões rochosos; recifes de corais e de arenito, estuários
    e  manguezais.  Cada  um  desses  ecossistemas  possui  características  únicas  em  termos  de  substrato,
    fauna  e  flora  aquática,  conectividade  e  usos.  É  importante  ressaltar  que  esses  ecossistemas
    desempenham funções importantes para o equilíbrio ambiental da costa brasileira.
    Não é possível pensar os ecossistemas costeiros como entidades ecológicas isoladas, mas sim como
    componentes complexamente interligados através de processos ecológicos, econômicos e socioculturais
    que operam em várias escalas temporais e espaciais, do global ao local, e afetam profundamente sua
    dinâmica, estabilidade e qualidade. Por conseguinte, para ser bem sucedida, a gestão dos ecossistemas
    costeiros, deve levar em consideração esses processos que operam nessas escalas.
    A  complexidade  dos  problemas  atuais  da  zona  costeira  e  sua  tendência  de  agravamento  face  às
    tendências  inerciais  dos  vetores  de  pressão  impulsionados  pela  crescente  globalização  econômica,  e
    das  mudanças  climáticas  em  curso,  requerem  que  o  enfrentamento  adote  uma  perspectiva
    interdisciplinar e integrada.





























                                   Figura 1. Alguns ecossistemas costeiros brasileiros


             Informativo CEMBRA                                        Nº 14 - Edição Semestral                  18
   13   14   15   16   17   18   19   20   21   22   23