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Perspectiva das Atividades de E&P no Mar Brasileiro

                                     Geólogo Reneu Rodrigues da Silva



    A  Margem  Continental  Brasileira  (MCB)  é  uma  das  regiões  mais  ricas  em  petróleo  do  mundo,
    concorrendo  com  poucos  países  o  protagonismo  da  produção  mundial  offshore.Os  vários  prêmios
    recebidos  pela  Petrobrás  na  Offshore  Technology  Conference  (OTC),  de  1992  a  2021,  atestam  essa
    liderança na superação de complexos desafios na exploração e produção (E&P) marítima, desde o fim
    dos  anos  60.  O  Brasil  depende  de  sua  produção  marítima  de  petróleo  (óleo  e  gás)  sem  a  qual  a  Matéria:
    economia  brasileira  seria  fragilizada  com  os  custos  de  importação.  Entretanto,  globalmente  há  uma
    grande  questão  em  pauta  sobre  o  modo  e  intensidade  das  futuras  atividades  de  E&P  diante  da
    crescente pressão de natureza ambiental liderada especialmente pelas nações economicamente mais
    avançadas  do  mundo  e  que  condiciona  a  chamada  “transição  energética”  (TE).  Uma  mudança  do
    vigente padrão global de produção e consumo baseado em fontes fósseis, como o petróleo, para fontes
    renováveis (eólica, solar, etc) está em curso no bojo da TE. Possíveis efeitos locais nas populações e
    nos biomas também têm sido enfatizados, haja vista no início de 2023 o impedimento por organismo
    ambiental  para  perfuração  exploratória  pioneira  no  bloco  FZA-M-059  na  bacia  sedimentar  Foz  do
    Amazonas, talvez por carência na realização de uma Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS).
    Contudo,  conforme  amplo  estudo  realizado  pela  Agência  Internacional  de  Energia,  em  2021,  com
    horizonte 2050, mesmo no cenário de “desenvolvimento sustentável”, aquele mais restritivo às fontes         Perspectiva das Atividades de E&P no Mar Brasileiro
    fósseis, com domínio dos recursos renováveis, principalmente solar, eólica, bioenergéticos e hidrogênio,
    a demanda mundial por petróleo seria ainda bastante significativa com cerca de 1/3 do total de energia a
    ser  consumida  globalmente,  embora  relativamente  mais  retraída  pelas  políticas  de  substituição
    energética. Considerando que a matriz energética brasileira já possui expressiva participação de fontes
    renováveis, uma das mais “limpas” do mundo, parece razoável admitir que o Brasil esteja coerente com
    esse cenário extremo e, portanto, praticamente nenhuma mudança significativa deveria ser feita na sua
    política de E&P marítimo.
    Por  outro  lado,  uma  perspectiva  de  indiferença  dos  agentes  de  E&P  nacional,  diante  de  crescentes
    demandas da TE e de restrições socioambientais, globais e locais, seria insustentável e poderia trazer
    severas consequências à sociedade brasileira. O Brasil tem compromissos internacionais assumidos e
    deve cumpri-los, como o Protocolo de Kyoto (1997) e o Acordo de Paris (2015) assinado por quase 200
    países  para  conter  o  aumento  do  aquecimento  global.Nesse  sentido,  o  Governo  Federal  finalizou,
    conforme noticiado em junho de 2023, um Projeto de Lei para criar um mercado regulado de Carbono no
    Brasil,  basicamente  um  sistema  de  compensações  de  emissões  de  gases  de  efeito  estufa  (GEE;
    greenhouse gases) que deve servir como um pilar para o cumprimento das metas do Acordo de Paris.
    Embora a indústria do petróleo não seja a principal responsável, precisará participar com a redução de
    emissão de CO2 na atmosfera para o atingimento da meta de zerar emissões líquidas de Carbono nas
    suas operações até 2050.
    A  indústria  mundial  do  petróleo  tem  intensificado  discussões  e  aplicações  de  medidas  para  uma  TE
    sustentável visando um futuro de baixo Carbono, envolvendo transformação de modelos de negócios de
    empresas  de  energia  com  foco  em  hidrocarbonetos  e  novas  soluções  tecnológicas.  Nessa  linha,  em
    junho de 2023, o Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) organizou o primeiro Environmental Social and
    Governance Energy Forum. E a maior operadora de E&P no mar brasileiro, Petrobrás, entrou de vez na
    TE  criando,  no  início  de  2023,  uma  Diretoria  dedicada  à  transição  energética.  Em  seu  novo  Plano
    Estratégico,  2024-2028,  investimentos  foram  alocados  para  o  desenvolvimento  e  aplicação  de
    tecnologias para Captura, Armazenamento e Utilização de Carbono (CCUS, na sigla em inglês) no setor
    de  E&P.  Essa  “descarbonização”  nas  operações  de  perfuração  e  produção  envolve  aumento  da
    eficiência  energética  pela  manutenção  preventiva  e  substituição  de  equipamentos,  eletrificação  e
    reinjeção de CO2. De fato, na produção de campos do Pré-sal na Bacia de Santos o CO2 já tem sido
    reinjetado nos reservatórios há vários anos.



             Informativo CEMBRA                                        Nº 14 - Edição Semestral                  12
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