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Continuação
Segundo Adam Tooze (Policrise – pensando na corda bamba, 2 de novembro de 2022), o Cascade
Institute, em relatório de abril de 2022, apresentou a seguinte definição para POLICRIS. 4
Parece que estamos definitivamente diante de uma incapacidade para compreender o mundo atual. Não
há a clareza conceitual, necessária para encontrar fundamentos e definir caminhos concretos e seguros.
Será preciso voltar aos anos de 1980 para entender o que Edgar Morin vislumbrava? Matéria:
Figura 2 – Rota de Transporte de Soja Segurança Marítima: Novos Desafios?
Fonte: Disponível em: <Vessels Carrying Soybeans | Heartland Farm Partners (heartlandfarmpartnersinfo.com)> Acesso em 16jul.2023.
O cenário descrito até aqui dá sentido ao título deste texto. Os problemas aumentam, como no passado,
mas com indicadores inusitados. O surgimento de novos “centros de poder” altera o controle da ordem
política e econômica mundial. Porém, há uma nova variável de impacto crescente e desafiador,
representado pelas mudanças climáticas. Ela faz uma inter-relação de tudo e todos. Os domínios
estratégicos, (figura 1), são todos impactados de forma sucessiva e simultânea. Não é factível que tal
choque seja desconsiderado para o Oceano Mundial. Este ocupa mais de 70% da superfície terrestre,
alimentando o ciclo que permite a renovação da água doce na Terra. A subdivisão em cinco oceanos é
uma questão histórica derivada do paulatino conhecimento das partes de cada um deles. Demorou para
que vissemos a continuidade como elemento fundamental dos “mares oceano”. O oceano Mundial é o
“pulmão do mundo” que controla a maior parte da concentração de dióxido de carbono. A terra é Azul!
A Segurança Marítima precisa ser revista em função dos novos desafios. Tal aspecto não invalida o
conhecimento adquirido no decorrer do tempo sobre o Poder Marítimo (os atributos do MAR; e os
fundamentos do MAR) definido e discutido por Mahan, Corbett, Coulomb, Castex e tantos outros que
deram aportes significativos para o estudo do “espaço” marítimo e a evolução da sua influência (Capítulo
II do livro O Brasil e o mar no século XXI: subsídios para o aproveitamento sustentável do mar
brasileiro).
A globalização e a desglobalização tornam obrigatório repensar a segurança marítima. Vale exemplificar
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com dois documentos lançados em 2022. Um é o “National Strategy for Maritime Security” divulgada
pelo Reino Unido em agosto de 2021. O segundo é a “Doutrina Marítima da Federação da Rússia”,
aprovada pelo Decreto nº 512 do Presidente da Federação Russa de 31 de julho de 2022.
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4. “Definimos uma policrise global como qualquer combinação de três ou mais riscos sistêmicos em interação e com o potencial de causar uma falha em cascata e descontrolada dos sistemas
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naturais e sociais de Terra, o que degrada de forma imprevisivel e catastrófica as perpectivas da humanidade. Um risco sistêmico é uma ameaça emergente dentro de uma sistema natural,
tecnológico ou social com impactos que se estendem além desse sistema para pôr em perigo a funcionalidade de um ou mais outros sistemas. Uma policrise global, caso ocorra, herdará as
quatro propriedades centrais dos riscos sistêmicos – extrema complexidade, alta não linearidade, causalidade transfonteiriça e profunda incerteza ao mesmo tempo que exibe sincronização
causal entre os riscos”.
5. O tema é tratado de forma multidisciplinar por cinco Secretarias de Estado,as quais possuem o maior nível de participação para “assegurar a proteção dos interesses marítimos” e atuar
“quando e onde seja necessário”. É um dos primeiros documentos desenvolvidos após o BREXIT e considera os eventos atuais.
6. Trata-se de um documento de planejamento estratégico que reflete o conjunto de visões oficiais sobre a Política Marítima Nacional e as atividades marítimas da Federação. A Política
Marítima formula os objetivos, princípios, diretrizes, missões e métodos para a garantia dos interesses nacionais da Federação da Rússia no Oceano Mundial. Como o documento do Reino
Unido, enfatiza estar “quando e onde seja necessário”.
Informativo CEMBRA Nº 14 - Edição Semestral 10