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Segurança Marítima: Novos Desafios?
Contra-Almirante (Refº) Reginaldo Gomes Garcia dos Reis
O Banco Mundial divulgou o relatório “Perspectivas Econômicas Globais”. Apresenta uma visão ampla,
em termos gerais e regionais, das respostas aos eventos de impactos elevados. O cenário preocupante
faz com que as especificidades atuais sejam objeto de profunda reflexão.
As crises ocasionaram choques intensos, simultâneos e sucessivos. O ponto de partida analítico é a
pandemia. Os países foram atingidos no aspecto saúde, tendo como consequência ocorrências políticas, Matéria:
econômicas e sociais, sofrendo tais efeitos até hoje.
Antes mesmo do arrefecimento da pandemia, já eram observados os problemas de abastecimento.As
cadeias logísticas, que permitiram a “globalização”, passaram a ser fortes barreiras para a economia
mundial. Problemas econômicos internos e externos geram, até hoje, consequências negativas. Nesse
cenário, um novo impacto ocorreu: a invasão da Ucrânia pela Rússia, tornando real uma guerra na
Europa. Os pilares do mundo ocidental, foram atingidos e enfraquecidos. As sanções econômicas
tomadas, especialmente pelos EUA e a União Europeia contra a Rússia, não se mostraram capazes de
deter as ações bélicas. As análises dos anos 1990, consideravam improváveis um conflito na Europa. Segurança Marítima: Novos Desafios?
Sem aprofundar, citam-se alguns fatos que permitem carregar o tom das tintas sombrias do cenário difícil
da prolongada guerra na Ucrânia e da intermitência da pandemia na China, que só agora, em 2023, dá
aparente volta à normalidade. Ainda é lenta a recuperação das “cadeias globais de produção”, levando a
uma instabilidade nos preços das commodities, principalmente petróleo e gás. O mundo experimenta um
agudo e duradouro surto de inflação, comparável aos piores acontecimentos de épocas passadas. Desse
modo, a tomada de decisão perde sustentação, sofrendo constantes alterações e revisões dos cenários
prospectivos.
A realidade do mundo hoje não permite contextos fragmentados. A dinâmica obriga a considerar: os
impactos das mudanças climáticas; o aumento da probreza e concentração de renda (riqueza); a
disrupção tecnológica (em velocidades exponenciais); o fortalecimento de novos “centros de poder” que
não se enquadram nos antigos modelos; e os ruídos incessantes de uma globalização em processo de
desintegração e de discórdia mundial. As desconfianças recíprocas levam a conflitos como ocorre entre
China e EUA. Será esse o caminho da desglobalização?
As consequências da desglobalização são bem amplas e afetam o cenário geopolítico. Todas as
dimensões do contexto estratégico da figura abaixo estão presentes integradamente. Está incorporado o
comportamento humano, o qual por si só impacta todos os sete contextos. Os conflitos, crises e guerras
ainda têm como natureza permanente a luta pelo poder: “Medo, honra e interesse”, como registrado na
visão de Tucidides.
A disrupção tecnológica ultrapassa hoje a capacidade de entendimento da maioria das pessoas e países.
As “big techs” assim como outras companhias de tecnologia, possuem um “PODER” significativo.
Influenciam diversos campos da geopolítica, não só na área militar, como nos econômico, social e
político. As empresas de tecnologia estabelecem uma governança sobre os dados e comportamento de
bilhões de pessoas. Estariam estabelecendo uma “nova ordem” como “centros de poder” fora do alcance
dos sistemas de pesos e contrapesos internacionais vivenciados até o início deste século? Uma questão
fácil de fazer, mas de uma complexa resposta, em especial pelo desafio que representa para todos: as
incertezas que envolvem o mundo.
Informativo CEMBRA Nº 14 - Edição Semestral 8