Page 9 - Informativo Cembra - Novembro 2023 - Nº 12
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Cultura Oceânica
Frederico Antonio Saraiva Nogueira
Secretário do Cembra
Se olharmos do espaço, o nosso planeta é azul porque o mar cobre 71% da superfície do globo. É um
paradoxo chamar este planeta de Terra, quando mais de 60% do Hemisfério Norte e 80% do Hemisfério Sul
são ocupados pelos oceanos. Habitamos o único planeta conhecido, até o momento, com água líquida em
sua superfície e o único dotado de vida que, inclusive, se originou no mar. Minúsculas plantas marinhas
liberam mais da metade de todo oxigênio presente na atmosfera.
O mar tem sido historicamente objeto de conflitos de uso e de interesse entre os países, especialmente os Matéria:
de ordem econômica e estratégica, o que se deve ao fato de os oceanos serem fonte de recursos naturais
essenciais à vida e importantes vias de transporte. Gregos, cretenses e fenícios costumam ser a mais Cultura Oceânica
antiga referência histórica em termos de mentalidade marítima. O uso do mar alterou-se com as variações
da conjuntura, em função da vontade dos mais fortes.
A grande maioria (80%) da população brasileira vive a menos de 200km do litoral, onde também se
concentra 93% da produção industrial e 85% do consumo de energia. A quase a totalidade das importações
e exportações, vitais para nossa economia, são feitas pelo mar, cerca de 95% do comércio exterior é por via
marítima. Do mar se extrai energia e alimentos, 90% do petróleo é produzido off shore e a nossa produção
de pescado, por ano, gira em torno de um milhão de toneladas, perto do limite de captura sustentável.
Contudo, o brasileiro não possui, ainda, uma mentalidade marítima consistente. Embora reconheça a
importância do oceano, em geral, concentra o seu interesse no litoral. De fato, o cidadão comum ainda não
compreende a real dimensão dos aspectos econômico, científico, ambiental e de soberania do mar.
A Marinha, reconhece a seguinte conceituação para “Mentalidade Marítima”[1]:
“[...] é a convicção ou crença, individual ou coletiva, da importância do mar para a Nação Brasileira e o
desenvolvimento de hábitos, atitudes, comportamentos ou vontade de agir no sentido de utilizar, de forma
sustentável, as potencialidades do mar”.
Eis aí o embrião da Cultura Oceânica, que parte do conceito de Mentalidade Marítima. No entanto, vai bem
mais além. Ademais do interesse de buscar, no cidadão comum, o crescimento da mentalidade marítima,
ênfase maior se pretende dar ao Congresso Nacional, aos escalões superiores do governo e à elite
intelectual especializada, para sensibilizá-los a conhecer e corrigir as vulnerabilidades existentes no
reconhecimento da importância do mar para a sociedade.
Ao par de outros fatores relacionados ao poder marítimo, tais como posição, configuração física, distribuição
populacional, uso do litoral, produção nacional, e poder naval, cabe ressaltar o clima, onde a importância do
oceano tem sido acentuada pelos cientistas. Portanto, a relação entre o oceano e a atmosfera constitui “o
coração do sistema meteorológico do globo”. O oceano é plenamente reconhecido como o grande regulador
térmico do planeta. A vida na Terra tal e qual a conhecemos não é possível sem a existência do oceano.
A consciência de que algo é importante começa com o conhecimento. Assim, faz-se necessário divulgar à
sociedade os principais recursos que o mar pode oferecer e qual a sua aplicação. É importante que essa
consciência seja desenvolvida nos corações e mentes dos brasileiros desde os bancos escolares do ensino
elementar. A Cultura Oceânica proporciona as ferramentas para esse desenvolvimento.
Dentre as ações que contribuem para o desenvolvimento da consciência citada no parágrafo anterior, cabe
destacar uma ação específica criada pela Cirm para o incremento da mentalidade marítima em nosso País.
A Promoção da Mentalidade Marítima (Promar)[2], foi criada pela Resolução nº 002/1997 da Cirm.
¹A presente nota está baseada na atualização do Capítulo XX - MENTALIDADE MARÍTIMA: A IMPORTÂNCIA DO
MAR PARA O BRASIL, da Edição virtual do livro “O Brasil e o Mar no Século XXI”, editado pelo Centro de Excelência
para o Mar Brasileiro (Cembra), que contou com a inestimável colaboração do Capitão de Mar e Guerra (RM1)
Camilo de Lellis M. F. de Souza, da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm).
²BRASIL. Ministério da Marinha. Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar. Programa de
mentalidade marítima “Promar”. Disponível em: <http://www.mar.mil.br/seCirm/promar.htm>.
Informativo CEMBRA Nº 12 - Edição Semestral 09