Page 5 - Informativo Cembra - Novembro 2023 - Nº 12
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O oceano pede ajuda!

    É para ontem, é para sempre...


                                                                                    Alexander Turra (IO-USP)
                                                            Cátedra UNESCO para Sustentabilidade do Oceano
                                                        Instituto de Estudos Avançados e Instituto Oceanográfico
                                                                                  Universidade de São Paulo


    Da forma como está não dá mais... Eu não aguento mais... Esse é o grito inaudível de socorro que o              Matéria:
    oceano  tem  dado  nas  últimas  décadas.  Poluição,  supressão  e  degradação  de  habitats,  invasão  de
    espécies exóticas, pesca excessiva e mudanças climáticas são algumas das causas do adoecimento do
    oceano. O ambiente marinho, do qual a humanidade depende fortemente, tem sido palco de degradação
    crescente e está perdendo sua saúde e sua capacidade em prover benefícios para as pessoas.


    Esses sinais de alerta foram percebidos recentemente e a mobilização para transformar essa realidade
    ganhou uma importante aliada. A Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável foi
    proposta na Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano, realizada em 2017 em Nova Iorque, com o
    objetivo de auxiliar na implementação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 – Vida na água
    ("conservar  e  promover  o  uso  sustentável  do  oceano,  dos  mares  e  dos  recursos  marinhos  para  o
    desenvolvimento  sustentável")  –  da  Agenda  2030  das  Nações  Unidas  para  o  Desenvolvimento
    Sustentável.  A  Década  do  Oceano  visa  produzir  a  “ciência  que  precisamos  para  o  oceano  que     O oceano pede ajuda! É para ontem, é para sempre...
    queremos”. Isso considera sete resultados que deverão ser atingidos até 2030. Em outras palavras, um
    oceano:

   1)  Limpo  -  o  oceano  que  queremos  tem  as  fontes  de  poluição  identificadas  e  reduzidas  ou
   eliminadas.  O  oceano  está  poluído,  sujo.  Esgoto,  resíduos  sólidos,  produtos  químicos,  fertilizantes

   agrícolas e metais pesados são exemplos de contaminantes que afetam o ambiente marinho. Dentre os
   vários  caminhos  existentes,  temos  que  considerar  a  ampliação  da  rede  de  coleta  e  tratamento  de

   esgotos,  que  no  Brasil  atende  apenas  50%  das  moradias,  fomentar  a  economia  circular,  e  fortalecer
   órgãos e procedimentos ambientais, como o licenciamento ambiental.


   2)  Saudável  e  resiliente  -  o  oceano  que  queremos  deve  possuir  ecossistemas  marinhos
   conhecidos,  protegidos,  restaurados  e  gerenciados.  Um  oceano  saudável  e  resiliente  tem  uma
   biodiversidade  protegida  e  relações  equilibradas  entre  estes  organismos  e  o  ambiente.  Para  tanto,  é
   necessário  implementar  ações  que  garantam  sua  proteção,  o  que  inclui  o  aumento  do  número  e  da
   efetividade de áreas marinhas protegidas.

   3) Produtivo e utilizado sustentavelmente - o oceano que queremos é um ambiente produtivo que
   apoia  o  fornecimento  de  alimento  e  uma  economia  oceânica  sustentáveis.  O  potencial  para
   desenvolvermos  a  economia  sustentável  do  mar  é  vasto,  mas  pode  ser  comprometido  pela  perda  de

   saúde e resiliência do oceano. Dentre os diferentes caminhos para promover uma reconciliação entre a

   produção sustentável e a conservação efetiva do oceano, que depende do desenvolvimento tecnológico e
   inovação,  temos,  como  exemplo,  geração  de  energia  limpa  e  renovável,  maricultura,  biotecnologia  e
   serviços para navegação.

   4) Previsível - o oceano que queremos deve ser previsível, compreendido pela sociedade, a qual
   pode  responder  às  mudanças  e  às  suas  consequências.  O  oceano  é  dinâmico  e  complexo,  com
   fenômenos  e  processos  físicos,  químicos  e  biológicos,  como  tempestades,  inundações  ou  mesmo  o
   desaparecimento  de  estoques  pesqueiros,  que  precisam  ser  mais  bem  conhecidos,  incluindo  suas
   relações  com  a  sociedade  e  seus  comportamentos  frente  às  mudanças  do  clima.  Sem  prever  as
   mudanças que ocorrerão no oceano, não teremos condições de planejar e construir o futuro.



             Informativo CEMBRA                                        Nº 12 - Edição Semestral                  5
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