Page 16 - Informativo Cembra - Novembro 2023 - Nº 12
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Resultados esperados para a Década do Oceano
Um oceano saudável e resiliente
Colaboradores: Eduardo Secchi, José H Muelbert e Margareth Copertino –
Projeto PELD/ELPA, Instituto de Oceanografia, Universidade Federal do Rio Grande
O oceano global cobre mais de 70% da superfície da Terra, contém nada menos que 97% de toda a
água do planeta e é fundamental para a vida no planeta. Além de influenciar e regular o clima, os
ecossistemas costeiros e oceânicos abrigam uma imensa biodiversidade, em grande parte ainda
desconhecida e não completamente mapeada e quantificada. A diversidade biológica representa Matéria:
segurança alimentar de qualidade, através da pesca e aquicultura, e potencial biotecnológico. A
conservação desta biodiversidade aumenta a resiliência dos ecossistemas costeiros e marinhos contra
os impactos naturais e antropogênicos, incluindo as mudanças climáticas.
Apesar desta relevância, os ecossistemas costeiros e, especialmente, oceânicos são os menos
estudados do planeta. As zonas costeiras são as áreas mais densamente povoadas do globo, com as
maiores perspectivas de crescimento populacional e desenvolvimento industrial e acumulam pressões
como a sobrepesca, poluição, ocupação desordenada e outras formas de degradação ambiental.
Somam-se às pressões antrópicas diretas, o impacto das mudanças climáticas causando aquecimento
das águas superficiais, elevação do nível médio do mar e acidificação. Os efeitos sinérgicos da
degradação antropogênica direta e dos impactos decorrentes das mudanças climáticas ameaçam a
saúde dos oceanos, colocando em risco a resiliência dos seus ecossistemas e a segurança das
populações humanas e não humanas. A preocupação com o uso sustentável dos oceanos tem crescido
em nível global e se espera ao final de 2030 ações concretas para mitigar estas ameaças.
Para tal, as ações devem integrar a formação de pesquisadores e o desenvolvimento de pesquisas que
abordam a identificação, mapeamento, prospecção, monitoramento da riqueza e diversidade biológica
dos oceanos e suas zonas costeiras com foco especial, mas não exclusivo, no Atlântico Sul e Antártica.
O profundo conhecimento a respeito desta imensa diversidade biológica e sua relação com o ambiente é
de fundamental relevância para identificar e subsidiar estratégias de utilização e conservação que visem
preservar as espécies e seus ecossistemas no longo prazo. Ecossistemas com maior diversidade são Resultados esperados para a Década do Oceano - Um oceano saudável e resiliente
mais resilientes, ou seja, têm maior capacidade de retornar ao seu estado original após uma perturbação.
Assim, a manutenção de um Oceano saudável, com toda sua biodiversidade, garante a segurança
alimentar, propicia enorme potencial biotecnológico, e fornece recursos para outras atividades da
economia azul.
O equilíbrio e funcionamento integrado dos ecossistemas, por sua vez, está atrelado ao papel de cada
espécie ou grupo de espécies. Interconectada pela teia alimentar em um sistema de dependência mútua,
a abundância de cada espécie é controlada pelas relações predador-presa. A redução ou remoção de
algumas espécies podem desencadear um efeito cascata, alterando o equilíbrio de todas as demais
espécies e de todo ecossistema. Com raras exceções, o conhecimento sobre o estado da biodiversidade
e dos serviços ecossistêmicos ainda está concentrado nas regiões sul e sudeste e em regiões costeiras.
Espera-se que, nesta década, possamos avançar no conhecimento das relações entre a diversidade
biológica e o funcionamento dos ecossistemas e produzir informações que subsidiem a conservação da
Biodiversidade na “Amazônia Azul” e todo seu potencial de interesse nacional.
Dentre ações de mitigação e adaptação baseadas na natureza, destacam-se a conservação e
restauração de ecossistemas costeiros - principalmente os vegetados como manguezais, marismas,
pradarias de gramas marinhas e bancos de macroalgas - os quais são componente chave nos processos
de sequestro de carbono e também na proteção da zona costeira. O Brasil possui a segunda maior área
de manguezal do mundo, que estoca de 2 até 4 vezes mais carbono do que o solo da Amazônia por
unidade de área. Este carbono não está totalmente protegido, já que estamos alterando as áreas
naturais costeiras rapidamente. O Brasil já pode reconhecer ações de conservação e restauração de
florestas e manguezais dentro de suas políticas climáticas, incluindo a criação de incentivos econômicos
para as comunidades tradicionais e a integração destes ecossistemas. Este é um resultado que deverá
estar consolidado em 2030.
Informativo CEMBRA Nº 12 - Edição Semestral 16