Page 19 - Informativo Cembra - Dezembro Abril 2023 - Nº 13
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Continuação
Caso haja a ruptura da capacidade de resistir e se recuperar, a floresta diminuirá continuamente,
perdendo a sua resiliência. Essa ruptura da capacidade de resistir é o que se quer evitar em nossa
Amazônia Azul e em todos os oceanos. É importante reconhecer os limites ambientais, desenvolver
novas ferramentas de gestão que criem resiliência e evitem pontos de inflexão ecológica, sem
capacidade de reversão, ferramentas que viabilizem a proteção e manutenção da qualidade dos
oceanos. Quando fatores gerados pelas atividades humanas (antropogênicos) resultam em alterações
nos ecossistemas (aumento da temperatura, acidificação do oceano, perda de biodiversidade), nos
deparamos com a necessidade de buscar melhores práticas e encontrar soluções para alcançar a Matéria:
manutenção da biodiversidade dos oceanos, garantindo o desenvolvimento sócio econômico
sustentável com o bem-estar ambiental e humano. Um oceano saudável depende do equilíbrio entre
seu uso e a conservação da sua biodiversidade. Um oceano saudável consegue superar eventuais
alterações ambientais causadas ou não por nós humanos. Um oceano saudável é um oceano
resiliente.
A história de um mar vazio começa quando nos damos conta de como eram os oceanos, cheios de Um oceano saudável e resiliente
peixes e grandes organismos da mega fauna marinha, hoje ameaçados de extinção, uma consequência
da exploração que se iniciou com as grandes navegações. Algumas ameaças, como sobre pesca,
mudanças climáticas, bioinvasão e poluição marinha aceleram o processo de degradação. Estimativas
recentes apontam tendências atuais de perda de grande parte dos ecossistemas oceânicos até o ano
de 2050 (WOA I e II). Os estudos, que sugerem essa tendência, destacam o avanço na degradação
dos oceanos nas últimas décadas, devido a práticas ainda pouco eficazes no gerenciamento de
resíduos. Poucos se dão conta de que nossas atividades longe dos mares, no continente adentro,
também influenciam os oceanos. Esgoto, resíduos sólidos diversos, defensivos e fertilizantes agrícolas,
metais pesados etc. chegam no mar carreados pelas chuvas que drenam as bacias hidrográficas ou
terminam descartados de forma irregular nos rios que acabam levando tudo para o mar. Nos dias
atuais, em que a Humanidade se defronta com a destruição acelerada de habitats e com a perda de
biodiversidade, a reconexão com o oceano global é uma estratégia de autopreservação. Segundo o
relatório ‘Estado do Clima Mundial’, da Organização Meteorológica Mundial, em 2021, os oceanos
atingiram os níveis mais quentes e mais ácidos de todos os tempos. As emissões de carbono são
responsáveis pelo aquecimento dos mares, sua acidificação e perda de oxigênio, que ameaçam os
ecossistemas e, por consequência, a segurança alimentar, o turismo e a economia mundiais. Os
oceanos são incrivelmente ricos e provedores de alimento para os seres humanos, e mesmo
enfrentando tantas adversidades, alguns estudos ainda identificam o grande potencial dos oceanos
para suprir a demanda cada vez mais crescente de alimento no mundo.
Imaginávamos os oceanos como infinito por toda sua grandeza. Hoje nos deparamos com um planeta
febril, com suas águas ficando turvas e vazias, uma verdadeira “emergência nos oceanos” onde o
tempo das mudanças é agora, “antes que seja tarde”. É necessário “que nos apropriemos desse mar
com uma posse real, profunda, apaixonada e definitiva”, como afirmou o Vice-Almirante Paulo de
Castro Moreira da Silva ao reconhecer que cada gota dos oceanos vale a pena ser compreendida.
Estudar e conhecer esses ecossistemas e seu funcionamento nos permite gerenciar, proteger,
restaurar e usar os recursos dos Oceanos de forma sustentável. Organismos marinhos são fontes de
desenvolvimento, inovação e tecnologia. Contribuem para grandes descobertas na neurociência,
fisiologia, imunologia, genética e medicamentos, como o primeiro antiviral contra a Covid M101
(Hemarina) e tratamentos para HIV, herpes, câncer, dores crônicas e doenças cardiovasculares. Outros
bons exemplos inovadores são os derivados de algas e bactérias marinhas, como bioplástico e energia.
De maneira geral, todas as ações para mantermos os “oceanos vivos” são ações para a evolução da
espécie humana. Se reconhecermos nossa dependência em relação aos oceanos, daremos um passo
adiante na busca pelo desenvolvimento socioeconômico em harmonia com a natureza. Uma
compreensão integrada e uma previsão mais precisa dos fenômenos oceânicos ou mesmo o
desaparecimento de estoques pesqueiros, apoiarão a tomada de decisão consciente, capaz de salvar
vidas e propriedades, além de proteger as atividades humanas.
Informativo CEMBRA Nº 13 - Edição Semestral 19