O ser humano, além de inteligente, é curioso e questionador, desde suas origens. As diversas espécies ou subespécies (KO, 2016) de hominídeos pré-históricos observavam, analisavam as alternativas, pesquisavam, e avançavam tecnologicamente. Ao longo da história, a humanidade vem buscando conhecer e entender melhor o mundo, tanto nos aspectos do funcionamento da natureza, como da própria existência e consciência humanas.
Assim, foram se desenvolvendo, ao longo dos últimos vinte e oito séculos, paralelamente ou associadas, as ciências naturais (astronomia, biologia, física, medicina, etc.), as exatas (matemáticas e afins), e as humanas (filosofia, teologia, sociologia, história, etc.) (SAGAN, 1982; GYATSO, 2002; FERRY, 2006; LENNOX, 2009; JOÃO PAULO II, 2010; LÓPEZ, 2014; RUSSELL, 2017).
Desde antes desse período, os pensadores têm conjugado, de diferentes formas, suas ideias de como está constituído e como funciona o mundo, do que é transcendente ou não-transcendente. Visto que somos seres racionais, buscamos, como humanidade, a melhor explicação para fenômenos e coisas que observamos e nos afetam. Todos nos perguntamos, não só os adultos mas até as crianças, sobre o universo que nos rodeia e nossa própria existência, sobre a origem e o significado de tudo e de cada coisa, ou por que existe algo em vez de nada (FERRY, 2006; KOCHE, 2007; LENNOX, 2009, 2021; JOÃO PAULO II, 2010; HAWKING & MLODINOW, 2010; WARBURTON, 2012; LÓPEZ, 2014; RUSSELL, 2017; MCGRATH, 2022). A ideia de que essas perguntas mais fundamentais somente podem ser validamente respondidas pela ciência é relativamente recente.

Autores como Eastbrook (1977), Garros (2016) e Lennox (2009, 2021) relatam que depois do iluminismo e particularmente nos últimos 150 anos, esta noção, de que somente a ciência traz respostas válidas, vêm primando na sociedade ocidental. Alguns chamam a essa tendência de “cientificismo” (BERLINSKI, 2009; LENNOX, 2009, 2021). Ainda, uma indesejável dicotomia entre as ciências, separando as naturais e exatas das humanas foi se gestando neste último período da história (era moderna e pós-moderna), relatam esses autores e outros.
Sem dúvidas as ciências foram, são e serão importantes para nosso conhecimento e entendimento do universo e para nossa própria sobrevivência, inclusive. Porém, se discute se podem ou não responder a todas as nossas questões (e.g. LENNOX, 2019; 2021; CARREIRA & GONZALO, 2022). Mas, antes de discutir quaisquer aspectos do conhecimento, vamos rever alguns conceitos básicos.
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SOBRE O AUTORGonzalo Velasco Canziani é uruguaio, e formou-se em Ciências Biológicas na Facultad de Ciencias de la Universidad de la República (UdelaR, Montevidéu, Uruguay). Posteriormente, veio ao Brasil para dar continuidade aos estudos de Pós-Graduação na área de Oceanografia Biológica, na Universidade Federal do Rio Grande (FURG, Rio Grande), onde desenvolveu trabalhos de oceanografia pesqueira, dinâmica de populações e ecologia de sistemas sujeitos à extração de recursos vivos, incluindo a modelagem quantitativa de ecossistemas aquáticos. Fez um pós-doutorado no Instituto de Ecologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp, Rio Claro) e outro na FURG. Trabalhou no Instituto Nacional de Pesca, em Montevidéu, e na Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República, em Brasília e na Estação de Apoio Antártico da FURG, antes de se tornar docente do Instituto de Oceanografia da FURG. Neste instituto, ministra disciplinas como “Avaliação e manejo de recursos pesqueiros” (e, brevemente, “Introdução à Oceanografia”), para alunos de Graduação, e “Metodologia científica, projetos e seminários” e “Introdução à modelagem ecológica de ecossistemas aquáticos” para alunos de Pós-Graduação. Muito embora as ciências naturais sejam sua vocação primária (apaixonado pela biologia, sobre tudo, mas também observando com curiosidade a paleontologia e a astronomia), sempre se viu atraído pela reflexão e o debate filosófico e algumas áreas das ciências humanas. Assim sendo, já com mais de 50 anos de idade, voltou à universidade para estudar e se formar em Teologia no Centro Universitário Internacional Uninter. É autor de alguns artigos científicos formais, artigos de difusão, capítulos de livros, textos na área das humanidades, e um dos fundadores e editores do Pan-American Journal of Aquatic Sciences, um periódico científico digital e gratuito, desde 2006.