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Tradicionalmente, a ciência pesqueira e o manejo de estoques tem se dado de forma específica, isto
é: cada estoque pesqueiro é tratado como um recurso quase que isolado do resto do sistema. Isso se
deu porque o desenvolvimento de modelos populacionais e de previsão de rendimentos pesqueiros,
décadas atrás, foi preciso simplificar o processo a ser modelado, a fim de obter resultados diretos e
consistentes naquele contexto histórico. Durante muitas décadas esses modelos foram usados com
certo sucesso para que os governos tomassem algumas decisões de manejo. No entanto, embora
boas para o seu propósito específico, tais abordagens não nos permitem, por exemplo, analisar os
efeitos indiretos da pesca de um recurso (a população ou espécie-alvo) sobre outros recursos que
vivem no mesmo ambiente e também são capturados pelas artes de pesca, nem analisar os efeitos
de outras pescarias nessa população, ou avaliar o efeito de variáveis ambientais ou da variação da
abundância de outras espécies (competidoras, presas, ou predadoras) na que consideramos alvo da
pesca e do manejo em questão. Todos estes aspectos estão dentro da esfera biológica e ecológica.
Ainda, a pesca como toda atividade humana, também é afetada por fatores econômicos, sociais,
culturais e políticos que devem ser levados em consideração ao avaliar opções de manejo (adminis-
tração) das pescarias.
Assim, abordagens mais amplas se tornaram necessárias. Destacamos aqui algumas delas.
Enfoque ecossistêmico: Nesta abordagem se considera o efeito da pescaria sobre uma espécie no
resto do sistema, e especialmente quando se procura otimizar os rendimentos de vários recursos e
não apenas de um, e se avaliam os efeitos colaterais da pesca e a poluição causada pelo homem. A
modelagem ecossistêmica é uma das formas de lidar com esta abordagem. Segundo a FAO (2003) “A
abordagem ecossistêmica das pescarias tenta equilibrar diversos objetivos sociais, levando em con-
ta o conhecimento e as incertezas dos componentes abióticos, bióticos e humanos do ecossistema,
e suas interações, e aplicando uma abordagem integrada da pesca dentro de fronteiras ecológicas
significativas”. Nesta abordagem, vemos o homem e a pesca como mais um predador em um sistema
complexo.
Gestão participativa (ou cooperativa) da pesca: A diferença do sistema onde o governo rege os des-
tinos das pescarias de forma vertical ou de “cima para baixo”, opta-se por incluir outros participan-
tes no processo decisório. As diversas partes interessadas têm lugar ao redor da mesa de discussões
e de tomada de decisões. Assim, são incluídos pescadores, armadores, sindicatos, pesquisadores,
representantes das agências governamentais de gestão e controle, ONGs, movimentos sociais, etc.
Isto requer processos e tempos de treinamento, educação, ganho de confiança, entendimento do
processo e seus alcances, e responsabilidades por parte de todos os atores que tentarão chegar a
consensos para definir como explotar os recursos pesqueiros.
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