Page 22 - Informativo Cembra - Abril 2025 - Nº 17
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No Oriente Médio, o conflito entre Israel e Irã contemplou, ao longo de 2024, ataques diretos en-
            tre os dois países, algo inédito na história. Dos grupos pró-Irã que seguiram no confronto direto
            contra Israel, como o Hamas, o Hezbollah, e os Houthis, foi este último que causou os maiores
            prejuízos para o comércio marítimo global. Desde novembro de 2023, inúmeros ataques contra
            navios navegando no Mar Vermelho e no Golfo de Áden foram perpetrados pelo grupo rebelde,
            vindo do Iêmen e fortemente apoiado pelo Irã. Dois navios mercantes afundaram em razão dos
            ataques realizados com mísseis e drones lançados de terra, assim como de drones marítimos.
            Navios de guerra dos Estados Unidos e dos demais países da Organização do Tratado do Atlân-
            tico Norte prosseguem patrulhando a região e escoltando diversos navios mercantes que por lá
            trafegam, mas a ameaça dos houthis segue obrigando diversas companhias de navegação a de-
            terminarem que seus navios não utilizem essas águas, optando pela rota mais custosa que passa
            ao sul da África do Sul.


            Nas águas do Pacífico Ocidental, mas especificamente no Mar do Sul e do Leste da China, o que
            vimos em 2024 foi um recrudescimento dos confrontos entre embarcações da guarda-costeira da
            China contra os das Filipinas e Vietnã, estes tentando proteger os pesqueiros de seus países em
            águas contestadas por diversos atores. Ao longo do ano, pelo menos dois grandes exercícios das
            Forças Armadas chinesas ocorreram ao redor de Taiwan, considerada uma “província rebelde”
            pelo governo de Pequim, com números cada vez maiores de navios. A entrada em operação do
            terceiro navio-aeródromo chinês, que realizou diversos testes de mar em 2024, prevista para o
            final de 2025 ou o início de 2026, dará um significativo aumento na capacidade da marinha chi-
            nesa, caso o governo decida pela tomada militar de Taiwan.

            Os casos acima relatados são apenas os mais importantes em andamento. Cabe observar que
            diversas marinhas do mundo estão investindo fortemente no aumento de suas capacidades, pois
            não se espera para o curto prazo nenhuma redução na instabilidade global — muito pelo contrá-
            rio. A competição entre China e Estados Unidos, as duas maiores potências do planeta, só tende
            a aumentar, e um conflito em relação a Taiwan é uma questão de tempo.


            Para finalizar, cabe uma reflexão sobre o Brasil. Com uma Amazônia Azul de 5,7 milhões de km2,
            por onde 95% de nosso comércio exterior trafega e 95% de nosso petróleo é extraído, a Marinha
            brasileira não se encontra devidamente preparada para defender nossos interesses contra as
            grandes potências globais. Faz-se mister que aumentemos o debate dentro da Sociedade sobre
            a geopolítica e a oceanopolítica mundial, a fim de despertar nossos governantes para a urgência
            de serem alocados os recursos orçamentários necessários. O Brasil não é um país qualquer, e ele
            precisa ter uma Marinha compatível com o papel que pretende exercer no cenário mundial. Ca-
            pacidade de defesa leva tempo, e não podemos mais esperar!


























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