Page 27 - Informativo Cembra - Julho 2018 - Nº 6
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Ao nos debruçarmos sobre o assunto, um ponto que logo surge como sendo de razoável sensibilidade
        é  o  da  busca  de  um  equilíbrio  adequado  entre  dois  “extremos  teóricos”  da  questão,  quais  sejam:


        I – acesso sem restrições
        versus
        II – acesso totalmente restrito

        Evidentemente,  os  extremos  acima  são  aqui  colocados  apenas  para  efeito  de  balizar  a  discussão,
        de  um  ponto  de  vista  teórico.  É,  no  entanto,  possível  imaginarmos  situações  (uma  guerra  por

        exemplo)  em  que  o  status  quo  venha  a  se  aproximar  de  um  desses  extremos,  neste  exemplo  o  da
        restrição  ao  acesso.  Este  caso  permite  também,  desde  já,  constatarmos  que  a  situação  é  dinâmica,
        pode  evoluir,  e  de  fato  evolui,  com  o  tempo,  no  espaço,  e  de  acordo  com  as  circunstâncias.

        Os países detém dados oceanográficos advindos de diversas fontes, basicamente: coletas feitas com
        recursos governamentais, para fins de pesquisa e outros; levantamentos feitos por empresas e indivíduos
        para fins de apoiar e levar adiante suas atividades econômicas; dados coletados por outros países nas
        águas jurisdicionais do Estado Costeiro; levantamentos feitos por instituições acadêmicas públicas e
        privadas para fins de ensino e pesquisa; dados oriundos dos diversos tipos de parcerias entre empresas

        e entes públicos; dados coletados no âmbito de programas de cooperação nacionais e internacionais.


        Especialmente se considerarmos o “espírito” da Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica para
        o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030) – a “Década” – em que nos encontramos neste momento,
        podemos constatar que há uma vontade, um incentivo às instituições, para se ampliar o acesso e diminuir
        as restrições aos dados e informações oceanográficas.



        Via de regra, a coleta de dados oceanográficos envolve elevados custos financeiros, e o mesmo pode
        ser dito para as posteriores fases de processamento, armazenamento e fornecimento desses dados ao
        público. Aqui, é importante notarmos a distinção entre os dados coletados com recursos governamentais
        e aqueles coletados com recursos da iniciativa privada, havendo também a possibilidade de inúmeras
        situações  intermediárias  –  e  as  decorrentes  complexidades  –  quando  são  consideradas  essas  duas
        fontes de recursos.


        Está claro que, em situações de normalidade, os dados coletados exclusivamente com recursos estatais
        – desde que não possuam algum tipo de restrição legal ao seu acesso – em algum momento devem

        ser disponibilizados de volta à sociedade. Cabe citar, neste ponto, o que chamarei aqui de “tempo do
        autor”: um determinado período de tempo que é concedido ao pesquisador e sua equipe, fomentados
        pelo Estado, para gerarem os resultados das pesquisas e publicarem os decorrentes artigos científicos.
        Depois desse período, os dados coletados devem ser disponibilizados ao público.


        Há  ainda  a  questão,  de  cunho  prático,  relacionada  à  capacidade  do  Estado  de  alocar  recursos
        para  esse  sistema  que  vai  desde  o  planejamento  e  a  coleta,  passa  pelo  processamento  e  guarda,

        e  finalmente  disponibiliza  os  dados  e  informações  oceanográficas  à  sociedade.  Ora,  como  foi
        observado  acima,  tal  sistema,  sua  implantação,  manutenção,  operação,  e  regular  modernização  em




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