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A perfuração científica consiste na execução de furos com uso de perfuratrizes que amostram sedimen-
tos e rochas do substrato oceânico. Estas amostras, denominadas de testemunhos com a forma de um
cilindro, contém toda informação da evolução dos oceanos do início de sua formação (de 220 milhões)
ao presente. A análise destas amostras permite: (1) ter uma visão mais acurada sobre as mudanças cli-
máticas e dos oceanos; (2) avançar no conhecimento sobre a vida nos oceanos e sua biodiversidade;
(3) entender melhor a dinâmica da Terra por meio da evolução do manto e crosta; (4) por fim, também
importante, discernir melhor os processos de movimentação da Terra (como terremotos, tsunamis etc.)
e aqueles eventos catastróficos atuais. Por isso os métodos e os interesses das perfurações cientificas
no mar profundo são muito diferentes das perfurações comerciais. Estas últimas têm somente o inte-
resse científico muito restrito e amostragem limitada do substrato oceânico, além de ser muito mais
complexas e dispendiosas.
Também notório, a realização de perfurações científicas no mar profundo envolve sempre a participa-
ção de geocientistas de vários países do mundo, tanto do hemisfério sul como do norte, na medida em
que é necessário domínio multidisciplinar de excelência das principais áreas das Geociências. Trabalhar
em forma conjunta e interdisciplinar permite que a comunidade científica aborde questões fundamen-
tais, como: Quais são os limites da vida em nosso planeta? Como os ecossistemas respondem a rápidas
mudanças ambientais? Como os processos profundos da Terra afetam o ambiente da superfície da Ter-
ra? Quais são os mecanismos subjacentes dos riscos geológicos e como podemos melhorar a avaliação
de risco e a previsão de eventos catastróficos? Como os fluidos que fluem pela maior parte do fundo do
mar impactam os sistemas geológicos e biológicos vinculados? A perfuração científica oceânica desem-
penha um papel central no teste, calibração e melhoria dos modelos preditivos do sistema terrestre em
escalas espaciais locais a globais e em escalas de tempo decadais a milenares.
A pesquisa brasileira passa por momento de grande efervescência em sua produtividade e na formação
de lideranças. Os indicadores mais recentes apontam para uma crescente visibilidade de nossa pesquisa
no cenário mundial, fruto de uma vigorosa atuação acadêmica desempenhada de forma cada vez mais
consistente. A propulsão das universidades brasileiras nos rankings internacionais para uma posição
de destaque entre as 200 melhores universidades do mundo abre novos desafios, como a internacio-
nalização de seus grupos de pesquisa e a necessidade de uma ação transversal entre as diversas áreas
do conhecimento. Este sentido multidisciplinar de atuação universitária reflete-se não só no crescente
número de artigos em colaboração publicados internacionalmente, mas também através da conver-
gência de temas estratégico na Geofísica, Tectônica, Paleoclimatologia, Paleoceanografia e Geomicro-
biologia que apontam para uma conexão clara entre as ações transversais das Perfurações cientificas
no mar profundo. Entretanto, os crescentes desafios tecnológicos criados pela exploração de novas
facetas do conhecimento levam os grandes centros de pesquisa a empreender atividades cada vez mais
dependentes de laboratórios complexos e de alto custo, como forma de se manterem competitivas e
com destacada atuação nos campos da pesquisa e da inovação. A atuação científica e tecnológica em
um âmbito multidisciplinar internacional também depende de uma formação educativa multidisciplinar
com custos elevados de atuação.
Centro de Excelência para o Mar Brasileiro - Informativo Cembra 15

