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Centro de Convívio dos Meninos do Mar: três décadas de um
projeto humanista
Lauro Barcellos
À GUISA DE UM HISTÓRICO: SONHOS DE UM JOVEM Informativo
Em 1986, eu já olhava com especial atenção o prédio abandonado do antigo entreposto de pesca,
localizado muito próximo ao Museu Oceanográfico. Achava um desperdício aquela imensa construção em
ruínas, às margens do canal, assim como seu cais, o qual atualmente utilizamos para atracação dos barcos-
escola do CCMar.
Eventualmente, visitava o prédio e já sonhava em transformá-lo numa escola humanista.
Primordialmente, já estava preocupado com a história das embarcações tradicionais do Rio Grande. Com
esse apelo e essa ideia, a seguinte questão era suscitada: “essa ruína precisa se transformar num centro de
formação profissional onde eu possa ensinar às pessoas”. Mas, ensinar o quê? Ensinar a navegação e a
construção naval tradicionais, reparos náuticos, serviços gerais, culinária, agricultura, humanismo e
diversos temas relacionados ao mundo marinheiro.
A ideia que catalisou o projeto foi construir um estaleiro-escola, para ensinar as técnicas da
construção naval tradicional com outras atividades que melhorassem um pouco a vida dos jovens
estudantes pobres de Rio Grande e São José do Norte. Assim, fica claro que desejava um centro de
formação profissional que se valesse do legado do Museu Oceanográfico — seria a ação social do museu
para a comunidade, conectada à cultura náutica local, com forte ênfase na mentalidade marítima. Para isso
era preciso o conhecimento dos mestres construtores e de todas as atividades inerentes à cultura e à
história da região. Matéria de Capa
A GÊNESE E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO COLETIVA DO PROJETO
Foi a história náutica local, seu resgate e registro, que me conectou bastante a tudo, e isso me fez
pensar diretamente nas pessoas e principalmente na juventude, já que a ideia dessa atenção com os jovens
sempre me foi aconselhada pelo Dr. Francisco Martins Bastos, então presidente da Fundação Cidade do Rio
Grande, um amigo que me apoiou muito no início da minha vida no Museu Oceanográfico. Em nossos
diálogos, ele sempre me dizia: “Nunca abandone os jovens”; e também pelo Prof. Eliézer de Carvalho Rios,
diretor-fundador do Museu Oceanográfico, que sempre foi um entusiasta de meus projetos, principalmente
do CCMar, que tinha como fundamento o acolhimento, a humanização e a formação profissional dos jovens
pobres do Rio Grande.
Não se tratava de ensinar a pessoas com formação atualizada e compatível com sua idade. Eram
pessoas jovens que podiam estar entre 14 e 17 anos de idade e matriculados na primeira série do ensino
fundamental. Foi nesses jovens brasileiros que resolvi concentrar o foco desse projeto chamado CCMar. O
conceito do CCMar foi desenvolvido também com a sabedoria da Drª. Judith Cortesão, ambientalista e
cientista de envergadura, e outras tantas pessoas que estiveram juntas nessa construção coletiva, e eu
continuo acreditando até hoje neste princípio: o da construção coletiva.
O projeto foi elaborado sempre com a retaguarda e no âmbito da Universidade Federal do Rio
Grande – FURG, com apoio de todos os seus reitores. Com essa ideia, se constituiu um histórico e o conceito
pra dinamizar o projeto. O CCMar é o produto real da filosofia de uma universidade que sempre pensou o
mar, que sempre esteve muito conectada à sua realidade ambiental e social.
Ademais, é importante ressaltar que o projeto do CCMar teve inicialmente o fundamental apoio do
BNDES, que financiou a restauração do prédio, assim como a aquisição dos equipamentos necessários
para o início das atividades. Além disso, se pode contar com o apoio da Marinha do Brasil, da Prefeitura
Municipal do Rio Grande, do Ministério Público Federal, do Ministério Público Federal do Trabalho, do
SENAC, da Portos RS, da Polícia Civil, da Polícia Federal, e da Fundação Cidade do Rio Grande.
A inauguração se deu no dia 20 de agosto de 2008, e desde então o CCMar atende anualmente 300
alunos.
Informativo Cembra 2020 Nº 10 • Edição Semestral 3