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Este desenvolvimento tecnológico para a ciência oceânica traz a reboque mudanças de paradigmas

        científicos ou simplesmente a descoberta de feições e processos desconhecidos pela ciência. Assim, a
        exploração (conhecimento) do fundo dos oceanos é uma janela do presente para o futuro, uma vez que a
        busca por um oceano sustentável é baseada no conhecimento do leito oceânico. Hoje, o fundo dos oce-
        anos é uma das maiores fronteiras do conhecimento para o nosso planeta, sendo que o projeto Seabed

        2030 (The Nippon Foundation and General Bathymetry Chart of the Ocean - GEBCO), iniciado em 2017,
        conseguiu até 2024 aumentar a área mapeada do fundo dos oceanos de 6 para 26%.


        O mapeamento do fundo dos oceanos não tem apenas um caráter científico e acadêmico. Conhecer o

        relevo submarino ou a variação das profundidades nos oceanos é uma informação fundamental para
        inúmeras atividades ligadas à sustentabilidade e a economia azul: planejamento espacial marinho,  de-
        fesa e soberania, segurança à navegação, modelagem  climática, segurança e reconhecimento de riscos
        geológicos submarinos, distribuição da biodiversidade marinha, vulnerabilidade de ecossistemas ma-

        rinhos, recursos minerais, políticas de conservação e criação de unidades de conservação, patrimônio
        cultural e histórico, manejo e gestão da pesca, entre outros.


        Seguindo esta premissa, o Laboratório de Geociências Marinhas (LaboGeo) da Universidade Federal

        do Espírito Santo vem mapeando o fundo marinho na margem brasileira há cerca de 20 anos. Nossas
        pesquisas sempre visaram o mapeamento das principais feições morfológicas ao longo da plataforma
        continental e quebra da plataforma do Espírito Santo e Abrolhos, e mais recentemente da Foz do Ama-
        zonas. Inicialmente sempre utilizando o sonar de varredura lateral e a partir de 2018, o ecobatímetro

        multifeixe. Ao longo dos anos, e sempre trabalhando em redes de pesquisa, fomos responsáveis pelo
        mapeamento de mosaicos de recifes submersos, e feições kársticas (Buracas/Dolinas) na Plataforma
        de Abrolhos, paleorelevos continentais afogados na Plataforma do Espírito Santo, bancos arenosos e
        carbonáticos na foz do Rio Doce e pelo mapeamento das estruturas recifais na Foz do Rio Amazonas.



        Não bastasse a importância da exploração do relevo submarino, começamos a explorar uma outra vari-
        ável dos levantamentos hidrográficos: o retroespalhamento, mais conhecido como Backscatter. A com-
        binação dos dados batimétricos com o Backscatter adquirido com ecobatímetro multifeixe e multifre-

        quência passou a permitir não só a definição da profundidade e observação do relevo submarino, mas
        também potencializou a classificação do fundo marinho, combinando a resposta acústica dos depósitos
        sedimentares e da biodiversidade, com a morfologia do fundo. Não mapeamos apenas o relevo, mas o
        habitat bentônico e a paisagem submarina.



        Essa experiência vem seguindo o avanço tecnológico e as demandas que a hidrografia, geologia e geo-
        física marinha e a oceanografia vêm recebendo ao longo das décadas. Com o acordar da sociedade para
        a busca pela sustentabilidade dos oceanos, a economia azul nos dá um choque de realidade, ou seja,

        conhecemos pouco o fundo dos oceanos, e mesmo que a margem continental brasileira tenha cerca de
        30% de cobertura de dados batimétricos, muitos são definidos como dados confidenciais. Estima-se
        que os setores ligados à economia do mar no Brasil geram mais do que 10% do PIB. O Brasil está reque-








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